quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Olhos que não vêem, coração que se sente

Acordar e abrir os olhos...ao abrir os estores deparo-me com o mesmo panorama de há anos atrás. Simplesmente, nem olho, nem paro para contemplar a dádiva que me foi consedida, a capacidade de decifrar formas, vizualizar cores...e são tantas as cores.
                O meu vizinho, aquele que é cego, é mesmo simpático. Vai-se lá perceber como, todos os dias quando passo por ele, dá-me os bons dias, tratando-me pelo nome. Mas quem é o cego afinal? Ele, que mesmo sem “olhar” para mim, sabe quem eu sou só pelo som caracteristico do meu andar? Ou sou eu? Eu que acordo, abro os olhos e nem dou valor ao simples facto de me poder ver ao espelho? Esse meu vizinho é o mais minuncioso dos observadores, porque sem ver percebe a beleza e pelo observável percebe a personalidade. Já eu não tenho essa capacidade e com grande pena minha. Não consigo ver alem do visivel, nem perceber alem do perceptivel. Ele vê para lá de mim, para lá daquilo que aparento ser. Provavelmente ele é dos poucos que sabe quem eu sou.
                E foi com este pensamento que eu acordei. A pensar no que seria de mim sem poder ver. Tentei pôr-me no lugar do meu vizinho e não posso, simplesmente não tenho essa capacidade. Abrir os olhos todos os dias e ver preto?  Não passa sequer pela minha cabeça como será. E pela sua? Provavelmente é para si como é para mim. Aquilo que menosprezamos, cada cego, se podesse, agarrava com a sua vida. Aquilo por que passamos sem perceber, muitos parariam só para ver, mas não podem.
                E agora? É estranho mas agora nada muda, porque amanhã vou abrir os estores sem sequer olhar para a paisagem e vou ouvir o bom daquele meu vizinho e será para mim como qualquer outro dia. Estarei eu cego?
Fábio Santos.

5 comentários:

  1. O cego mais cego, é aquele que não quer ver. Excelente texto, Fávio. Uma bela lição de humanidade. Uma critica bem formada à sociedade em que vivemos.
    Muito bom.
    Abraço amigo

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  2. A verdade é mesmo essa. Deixamos de parte o mais importante para nos debruçarmos nas coisas que não valem a pena. Excelente iniciativa e otimo texto.

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  3. A história do teu vizinho realmente é tocante. Dá que pensar.
    Penso que ninguém consegue imaginar deixar de ver, de um dia para o outro, mas ele demonstra que consegue ver melhor que qualquer um de nós.
    Um verdadeiro exemplo! =)

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  4. um belo olhar sobre o mundo que nos rodeia e como pequenas coisas nos escapam sem qualquer importância.
    Excelente texto

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  5. está muito bom. uma óptima estrutura!
    continua

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